Como profissional do e-commerce fashion, você já parou para pensar sobre sustentabilidade na indústria da moda, mas qual seu papel neste tema?
Uma coisa que parece distante das atividades diárias vem se tornando cada vez mais um assunto de gestores das marcas e e-commerces. E isso tem acontecido porque fatias importantes do mercado têm passado por mudanças nos comportamentos de compra.
Mudanças como essas sempre refletiram o espírito do tempo de cada época, e se você não está familiarizado com assuntos como COP 22, pegada de carbono e upcycling, talvez você esteja um pouco alheio ao espírito desta época. Pelo menos é o que pensam fatias crescentes de consumidores preocupados com a sustentabilidade da indústria da moda.
E se passar pela sua mente ignorá-los, preciso dizer que esse público vem representando uma fatia cada vez maior no mercado. Para um relatório assinado pela IBM Insigths (2020) englobando 18.980 pessoas de 28 países, há dois grupos de consumidores que se destacam.
Do total de respondentes pelo mundo, 81% pertencem a um dos segmentos: O primeiro (41%) são consumidores que compram priorizando custo/benefício. O segundo (40%), procuram por produtos e serviços alinhados com seus valores.
Em outra pesquisa publicada pela empresa Statista (2021), “cerca de 69 por cento dos consumidores em todo o mundo mudaram os produtos e serviços que usam devido a preocupações com as mudanças climáticas.”
Quando pensamos em e-commerces de nicho, essas porcentagens já se tornam muito mais atraentes, concorda? Isso porque são traduzidas facilmente em faturamento.
Mas afinal, o que significa falar de sustentabilidade na indústria da moda?
O que é sustentabilidade aplicada aos e-commerces de moda
Os e-commerces de moda são (cada um do seu modo e em sua proporção), agentes ativos das cadeias de produção e comércio globais. Com isso, inevitavelmente, sua própria operação ou seus parceiros comerciais estão implicados nos debates sobre sustentabilidade, mas em quais aspectos?
Vamos discutir alguns:
Emissões de CO2
Com a pandemia e a instituição repetida de lockdowns pelo mundo, mudanças radicais nos índices de qualidade do ar se tornaram notícia em diferentes veículos de imprensa pelo mundo.
Isso aconteceu porque, devido à interrupção da atividade industrial e grande parte das pessoas ficando em casa e reduzindo a queima de combustíveis fósseis, a emissão de CO2 na atmosfera caiu a níveis que não eram observados a bastante tempo (porém, assim que os lockdowns cessavam, a poluição voltou aos níveis anteriores).
Fatos como esse trazem mais luz para o debate público sobre como nossas cadeias de produção, beneficiamento e transporte de insumos e produtos geram poluição dos ares.
Visualize a cadeia do transporte, por exemplo: os insumos são transportados para a indústria, a produção acontece, os produtos seguem para os estoques e a entrega aos consumidores é feita.
Se não considerarmos que ainda podem ocorrer trocas e devoluções por diferentes motivos evitáveis, e desconsiderando o índice de desperdício na indústria, só aí já temos uma “dívida ambiental” significativa, não temos?
Estes debates podem demorar a resultar em processos produtivos ou logísticos mais limpos, porém, já podem trazer mudanças hoje mesmo na forma com que nós, gestores de e-commerce, otimizamos o uso das matérias primas e produtos que comercializamos, concorda? Sem falar ainda em posicionamento de mercado.
Baixa vida útil das roupas, apesar de boas para uso
Quando o fast-fashion se difundiu, representou um ganho em termos de agilidade de produção, diversificação de técnicas, redução de custos e disponibilidade de produtos em diferentes mercados.
Porém, também trouxe consequências encaradas como negativas por movimentos ambientais, como a produção de coleções atualizadas em períodos de tempo cada vez mais curtos. Na prática, tornando a coleção anterior defasada e criando a necessidade de atualização para as pessoas, explorando bem gatilhos mentais conhecidos pela publicidade.
Neste cenário, uma solução poderia ser a reciclagem, certo? Nem tanto. A maioria dos produtos são feitos de diferentes materiais, como Poliéster, Algodão, Viscose, Lã etc. E tudo se joga fora misturado, tornando a reciclagem desses materiais cara e difícil, ou seja, quase impossível na prática.
Isso abriu espaço para diferentes movimentos que buscam aumentar a vida útil de peças que não estão alinhadas com as tendências, mas que ainda podem ser usadas. Surge aí o conceito de upcycling, que prioriza a reutilização de materiais já existentes para criar novos produtos ou para dar um novo ar a peças já produzidas.
Como argumenta a fundação One Army, mesmo as vendas ou doações de roupas em bazares (que representam iniciativas apenas positivas), tem seu calcanhar de Aquiles. Essas lojas costumam receber mais roupas do que conseguem vender, e filtrando em busca das melhores o excedente é descartado ou encaminhado para países em desenvolvimento como Índia e Gana, onde são vendidas em mercados ou doadas (mais plásticos de sacolas à vista).
Sustentabilidade nas relações de produção e mão de obra
Outro elemento muito importante quando falamos de sustentabilidade na indústria fashion é como se dão as relações de venda de mão de obra na cadeia produtiva. Neste meio, são comuns denúncias de relações trabalhistas abusivas ou que desrespeitam direitos humanos fundamentais.
Essas denúncias em sua maioria (não exclusivamente) envolvem fornecedores das grandes marcas, mas com o princípio de que é dever de cada marca estabelecer e controlar suas políticas de fornecedores, é justo que haja uma responsabilidade compartilhada para estimular a cadeia toda a ser mais justa.
Dentro deste debate surgem diversas iniciativas, como selos que autenticam marcas que comprovam cadeias de produção justas. Esta prática, embora ainda pouco disseminada, oferece opções aos varejistas, que agora podem agregar mais valor aos produtos e não recorrer a preços mais baixos que, infelizmente, ainda podem ser mantidos também em função de mão de obra mal remunerada ou sobrecarregada.
Posicionamento institucional
Sustentabilidade é também um argumento cada vez mais forte no posicionamento das marcas, muito em função da mudança de valores de parcelas de consumidores, como já abordamos.
Este movimento é positivo, pois posiciona a responsabilidade ambiental como um tipo de moeda de troca, onde é possível criar conexões sólidas com consumidores que se propõe a pagar mais por produtos/serviços responsáveis.
Citando a mesma pesquisa trazida pela IBM:
“Quase seis em 10 consumidores pesquisados estão dispostos a mudar seus hábitos de compra para reduzir o impacto ambiental. Quase oito em cada 10 entrevistados indicam que a sustentabilidade é importante para eles.
E para aqueles que dizem que é muito/extremamente importante, mais de 70% pagariam 35% a mais, em média, por marcas que são sustentáveis e ambientalmente responsáveis.”
Podemos ver variações destes números de país a país, mas as mudanças no comportamento coletivo já é uma realidade. A decisão que seu e-commerce precisa tomar é se vai se beneficiar disso agora, enquanto é um movimento inicial, ou se o fará depois, quando for um requisito legal.
Desperdícios evitáveis de materiais nos e-commerces
Trazemos estes pontos sem mencionar ainda a questão do desperdício de insumos na operação dos e-commerces. A cada nova troca ou devolução que é facilmente evitável, por exemplo, novas caixas e plásticos são necessários, quando não são materiais de um único uso, como os plásticos que não podem ser reciclados.
O que caracteriza um e-commerce sustentável?
Como podemos ver até aqui, não precisamos colocar um banner do Greenpeace no e-commerce para implementar ações de sustentabilidade.
Há diferentes estratégias que podem ser adotadas dentro da operação dos e-commerces que podem gerar melhorias focadas em diminuir a pegada de carbono.
Uma delas, por exemplo, é a diminuição de trocas e devoluções proporcionada pelo uso do Provador Virtual nos e-commerces, já que clientes que compram sem dúvidas de tamanho têm menores chances de pedir troca, consumindo recursos de logística reversa.
E esses avanços estão sendo acompanhados cada vez mais de perto pelos grupos ambientais organizados. A consultoria Business of Fashion, por exemplo, criou uma metodologia proprietária para avaliar as práticas de sustentabilidade das empresas de moda, e aplicou esta metodologia nas 15 maiores companhias do mercado fashion.
A nota das empresas hoje não está muito positiva, mas o interessante da metodologia é propor parâmetros que podem ser medidos e são menos subjetivos. De onde esta proposta veio, outras também virão com o tempo.
Isso é uma tendência que não pode ser ignorada, e as marcas precisam se adaptar a esses novos hábitos de consumo, pensando em novas alternativas e investindo na transparência sobre sustentabilidade.
E você, quais ações pode avaliar para seu e-commerce?